Crónica do Sporting 0 – Benfica 2

SOU MELHOR, VIZINHO, E ISSO BASTA!…
Mais forte, mais alto, mais ágil. Mais equipa.
Sporting e Benfica são vizinhos. Têm os seus arrufos. Um vê a roupa do adversário na sua varanda e reclama. O outro queixa-se, engole em seco e promete que não fica assim: basta ver um vaso fora do sítio, uma planta mal tratada e, sem meias tintas, trata de encher o peito, alimentar o ego e limpar a honra. Nem que seja por um tapete mal sacudido. É uma rivalidade sã. Eterna, imortal e clássica. Têm os seus problemas. Como todos os vizinhos. O Benfica é quem mais se destaca: tem a melhor casa, a melhor decoração, os melhores imóveis. O Sporting tenta acompanhar. Mas falta-lhe sempre qualquer coisa. E afunda-se. Desespera por não acompanhar o ritmo vencedor do FC Porto nem a velocidade de ponta do Benfica na perseguição. Acaba por abalar, tremer e cair na abulia.
Nico Gaitán é daqueles convidados que vê o tapete à porta de casa e passa como se ele lá não estivesse. Entra sem cerimónias, pendura o casaco, arregaça as mangas e prepara-se para a acção. Não quer conversas. O dono da casa olha-o desconfiado, torce o nariz e contorce o pescoço. Aquilo não é bom prenúncio. Tem que estar alerta, preparado, sem se deixar levar. Grimi apareceu como cicerone, meio desajeitado, entrado à pressa e lançado às feras. Paulo Sérgio colocou-o na esquerda, chamou Torsiglieri para o centro e Daniel Carriço, capitão e cordial para receber os convidados, por mais incómodos que eles sejam, ficou de fora. O argentino não esteve alertado. Lento, parado e sem reacção, num cruzamento largo de Nico Gaitán, foi antecipado por Salvio. O Benfica chegou à frente.
O vizinho mais forte marcou e saltou para a liderança. Não foi surpresa. Mesmo sendo em casa alheia. O ritmo inicial, intenso e vivo, baixou gradualmente, por iniciativa do Benfica e por melhoria do Sporting. A equipa leonina assentou, Matías Fernandéz sobressaiu e Postiga, sozinho mas lutador, tentou furar para assustar Roberto – o chileno chegou a marcar, mas em fora-de-jogo. O mal do Sporting é quase sempre o mesmo: quer mas não pode. Mostra vontade, pretende mostrar garra, soltar-se e tentar algo novo. Só que faltam forças, faltam ideias, falta, até, felicidade. O derby dos derbies é para homens de barba rija, é uma peleja intensa, não dá para desconcentrar. O Sporting, já se disse, não teve capacidade para colar o dedo no nariz do rival e remetê-lo para trás. Ao menos para não ignorar o tapete que tem Welcome! estampado. Não conseguiu. E o Benfica ficou confortável.
Refastelar, acalmar e descansar na casa alheia
Os últimos minutos da primeira parte abalaram a serenidade do Benfica. Sidnei foi expulso, Jorge Jesus viu-se obrigado a mexer, deixou Saviola ao intervalo para fazer entrar Jardel, recompondo a sua estrutura defensiva. O Sporting espreitou a sua oportunidade. Nada tinha a perder, acabara melhor e agora, se calhar, sabe-se lá, poderia ser um ponto de partida para tentar chegar mais longe. Teria de mexer, agir, atacar. Criar instabilidade, impedir que o vizinho se instalasse no sofá, como se estivesse nas suas sete quintas, provocando rupturas. Demorou a fazê-lo. O Benfica, mais adulto e mais aguerrido, liderado por Nicólas Gaitán, o tal que entra pelo território dos outros sem pedir licença, voltou, depois do abalo de Sidnei, a trazer a tranquilidade. Jorge Jesus sossegou. E refastelou-se na cheslong.
Uma hora de jogo, dois golos de vantagem e conforto. Com menos um jogador, sim. E depois? O Benfica fechou os espaços, tapou os caminhos e apostou na velocidade. Marcou, esteve por cima, foi sempre melhor. Viu o Sporting ter bola, circulá-la, acercar-se da baliza de Roberto e ameaçar. Mas nunca se revelando verdadeiramente intimidatório. Estava em casa, só que dominado. Lutou, quis e porfiou. Sempre sem sucesso. Caiu na realidade, percebeu que o rival se superiorizara, ganhara bem, agitou a bandeirinha branca e rendeu-se. Recebeu um golpe no orgulho, perdeu mais uns pontinhos no ego, perdeu com o vizinho do lado. Reconheceu que o Benfica lhe tomara o território e, pronto, fora melhor. Mesmo que não tenha obrigado Rui Patrício a fazer uma defesa…
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